
Pepe Mujica morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, no Uruguai. Ele estava com câncer desde 2024 e havia se despedido da vida pública no começo deste ano.
Nascido em Montevidéu em 20 de maio de 1935, filho de agricultores de origem basca e italiana, Mujica iniciou sua vida política como secretário da juventude no Partido Nacional.
Em 1962, fundou a União Nacional, vinculada ao Partido Socialista, e logo se uniu ao Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros –, participando de ações militares.
Foi preso quatro vezes e fugiu duas do Presídio de Punta Carretas, acumulando quase quinze anos encarcerado, dos quais onze em calabouço, até ser beneficiado pela anistia de 1985.
Caminho ao poder
Após deixar a prisão, fundou o Movimento de Participação Política (MPP) dentro da coalizão Frente Ampla.
Eleito deputado em 1994 e senador em 1999, seu grupo tornou-se majoritário em 2004. Em 2005, assumiu o Ministério da Agricultura no governo Tabaré Vázquez.
Nas prévias de 2009, superou o ministro da Economia e foi indicado candidato presidencial. Venceu o segundo turno em outubro e tomou posse em março de 2010, jurando pelo voto de sua companheira Lucía Topolansky.
Metas e conquistas sociais
No Planalto, definiu como objetivo reduzir em 50% a pobreza e a miséria. Manteve políticas de inclusão social e distribuição de renda, expandindo programas para as camadas mais vulneráveis.
Seu estilo de vida austero — recusar o Palácio Presidencial e viver em um sítio na periferia de Montevidéu — reforçou suas declarações humanistas.
Economia e desafios
Ao assumir, herdou um crescimento de 10,4% do PIB e 6,2% de desemprego. No entanto, a partir de 2012, a economia desacelerou devido à recessão global, seguindo tendência regional.
Ainda assim, as políticas de assistência continuaram em ritmo acelerado, sustentando a popularidade de seu governo.
Avanços e principais legislações
Sob sua gestão, o Uruguai deixou de ser visto como paraíso fiscal, assinando acordos de troca de informações fiscais e apresentando relatórios ao Fórum Global de Transparência Fiscal e Troca de Informação.
Declarou imprescritíveis os crimes de violação de direitos humanos cometidos entre 1973 e 1985.
Promulgou a “lei da maconha”, regulamentando consumo, cultivo, distribuição e comércio sob supervisão estatal, estimando entre 150 000 e 200 000 usuários atendidos pelo Estado.
Ainda aprovou a legalização do aborto, ampliando direitos reprodutivos. Durante seu governo, Mujica avançou na democratização dos meios de comunicação, instituindo limites à concentração de licenças de TV, impondo taxas e penalidades às concessionárias, garantindo espaço de propaganda eleitoral proporcional ao desempenho dos partidos, exigindo maior presença de produção uruguaia e independente na programação, criando um Conselho de Comunicação Audiovisual para regular o setor e proibindo publicidade de produtos insalubres dirigida a crianças, além de restringir a participação de provedores de TV paga nas áreas rurais.
Retorno ao Senado
Em janeiro de 2015, deixou a Presidência e reassumiu sua cadeira no Senado, onde seguiu atuando em debates sobre inclusão social, direitos humanos e transparência, até 2020, quando deixou o cargo político.