
A Rua dos Protestantes, principal ponto de venda e consumo de drogas a céu aberto do centro de São Paulo, conhecida como Cracolândia, amanheceu vazia nesta terça-feira (13), apenas com viaturas da Polícia Militar (PM) e da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Não há sinal dos usuários de drogas que costumam circular naquela área.
Comerciantes das proximidades afirmam que a redução do fluxo de dependentes ocorreu nas últimas duas semanas, mas desde sábado o esvaziamento ficou mais evidente.
Mudanças de localização do fluxo de usuários são comuns no centro da capital paulista, mas, dessa vez, não há registro de aglomerações em outras regiões daquele entorno.
Prefeito está surpreso
Questionada pelo Portal iG sobre a participação do poder público municipal no esvaziamento da cracolândia, a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Comunicação,, enviou áudio de uma entrevista dada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), na manhã desta terça, na qual ele diz que o esvaziamento total nesta terça surpreendeu.
Segundo ele, a prefeitura intensificou ações no local nos últimos anos, com ampliação da presença das Polícias Militar e Civil, das equipes de assistência social e de saúde do município, o que gradativamente foi reduzindo o número de usuários.
No entanto, em relação à situação atual, ele diz que a prefeitura está tentando entender o movimento na Rua dos Protestantes e que o problema ainda não está resolvido.

Nunes acreditaque ações recentes do Governo de Estado e da Prefeitura na Favela do Moinho para desmobilizar o tráfico de drogas naquela área pode ter colaborado com o deslocamento dos usuários da Cracolândia.
Moinho
Na última semana de abril, o governo do Estado de São Paulo iniciou a transferência das primeiras famílias da Favela do Moinho, localizada no centro de São Paulo. A comunidade, que se encontra entre linhas de trem e em uma área com alto risco de incêndios e alagamentos, abriga atualmente 821 famílias.
A retirada das famílias tem provocado vários protestos nos últimos dias.
A Favela do Moinho está localizada em um espaço murado, com apenas uma entrada e, de acordo com as autoridades, é um bunker do tráfico de drogas que abastece a região da Cracolândia.
“Na ação da Polícia Civil com o Ministério Público e da Polícia Militar, foi preso o Léo do Moinho, que é o grande traficante daquela região”, apontou o prefeito. “Com o abafamento das operações do tráfico de drogas, evidentemente, sem a droga presente, você tem uma facilidade maior de convencer as pessoas a irem para tratamento”, completou.
Segundo ele, somente nesta segunda-feira (12), 60 pessoas procuraram voluntariamente os Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs).
Nunes também disse que a prefeitura vai ficar atenta ao local e à movimentação dos usuários de drogas.
“A gente já tem pré-informações de que existe uma movimentação para um outro local. (…) Mas nós estamos caminhando para poder resolver essa situação. A gente tem que, durante alguns dias, ainda manter a sobrevigilância (…) O governador Tarcísio [de Freitas/ Republicanos] e eu colocamos uma coisa como meta: nós vamos todo dia trabalhar para fazer enfrentamento àquela situação; tanto do ponto de vista criminal, prender traficante, como do ponto de vista de saúde e assistência social, de dar tratamento para as pessoas”, finalizou o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes
Truculência
Já a a Craco Resiste, movimento social contra a violência policial na Cracolândia, critica a prefeitura por atos truculentos praticados na região, contra usuários de drogas.
Em nota enviada ao Portal iG, o movimento alega que “a Prefeitura de São Paulo passou a adotar, nos últimos dias, a política de dispersar na pancada os grupos de pessoas em situação de rua e que consomem drogas na região da Cracolândia, centro da cidade. Foi essa ação que provocou o esvaziamento do fluxo que estava concentrado na Rua dos Protestantes”, afirma.
Ainda segundo a nota, a política não é nova e remete à Operação Dor e Sofrimento posta em prática em 2012 pela gestão do prefeito Gilberto Kassab.
“A gestão do prefeito Ricardo Nunes, em parceria com o governo de Tarcísio de Freitas, tem trabalhado para deixar as pessoas em uma situação limite. Há grandes dificuldades de acesso à água, revistas vexatórias e humilhações cotidianas, o que esfrangalha as condições emocionais das pessoas em desproteção social e propicia o contexto para violência. O que está acontecendo nas ruas do centro de São Paulo chama-se tortura. Tortura a céu aberto, protagonizada pelo poder público e custeada por toda a população”, denuncia.
Finalizando, a nota da Craco Resiste defende a adoção de medidas que possibilitem a garantia de direitos básicos a todas as pessoas da cidade – com acesso à moradia, saúde, alimentação, higiene e lazer.
“Só assim vamos deixar de fazer guerra às pessoas e buscar realmente uma solução para o centro de São Paulo”, conclui.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo foi questionada pela reportagem a respeito das ações realizadas no local, mas, até o momento, não retornou. Assim que o fizer, a matéria será atualizada.