Após 45 anos de farsa, juiz que se passava por lorde inglês alega ‘drama existencial’

Juiz que fingiu ser lorde inglês alega transtorno psiquiátrico após enganar TJSP por mais de 20 anos. Na imagem, a carteira de identidade falsa do juiz.

Juiz que fingiu ser lorde inglês alega transtorno psiquiátrico após enganar TJSP por mais de 20 anos – Foto: Divulgação/ND

O juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, de 67 anos, que fingiu ser o lorde inglês Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, alega ter diagnóstico de Transtorno de Personalidade Esquizoide. Ele adotou a identidade falsa por 45 anos.

José Eduardo responde um processo por uso de documento falso e falsidade ideológica. Ele trabalhou no TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) por mais de 20 anos e afirmava ser descendente de nobres ingleses.

A defesa do juiz adicionou o laudo psiquiátrico no processo que ele responde. Os advogados pedem a Justiça autorize o “incidente de insanidade”, procedimento que avalia a saúde mental do réu. Com isso, ele poderia ser declarado inimputável.

Conforme o documento, José Eduardo adotou a identidade falsa como forma de “começar uma vida nova” após um “drama existencial”. A personalidade de lorde inglês seria uma resposta a um “quadro psicológico complexo, motivado por frustração pessoal”. As informações são do Estadão.

Ao psiquiatra, o juiz relatou que, na época, “queria morrer e renascer outra pessoa” e sentia “vergonha de sua história e de seu nome”. A defesa pede que o Ministério Público considere um Acordo de Não Persecução Penal.

José Eduardo teria criado identidade alternativa por vergonha do próprio nome e história. Na imagem, ele aparece centralizado, com expressão séria. Homem branco, de paletó cinza-claro e camisa branca.

José Eduardo teria criado identidade alternativa por vergonha do próprio nome e história – Foto: Divulgação/ND

O termo, que tem como base a confissão do crime por parte do réu, faria com que ele fosse obrigado a cumprir algumas cláusulas, como pagamento de multa e prestação de serviços comunitários. A medida faria com que ele não respondesse ao processo criminal.

Segundo os advogados do juiz aposentado, ele não teria usado a identidade falsa para cometer crimes ou prejudicar terceiros. José Eduardo manteve ativa a identidade brasileira, que era renovada periodicamente.

O Transtorno de Personalidade Esquizoide, alegado pela defesa do juiz que fingiu ser lorde inglês, compõe o agrupamento dos transtornos excêntricos. Ele é caracterizado por distanciamento e desinteresse generalizado por relacionamentos interpessoais.

Juiz que fingiu ser lorde inglês viveu com dupla identidade por quase 45 anos

Segundo a denúncia do Ministério Público, José Eduardo dos Reis compareceu a um posto de identificação da Polícia Civil no dia 19 de setembro de 1980 e tirou o documento em nome de Edward Wickfield.

Em 3 de outubro de 2024, porém, ao solicitar uma segunda via da carteira de identidade, as digitais do suposto Edward coincidiram com as de José Eduardo.

Identidade falsa do juiz que se passava por lorde inglês foi descoberta ao tirar segunda via de documento. Como ilustração, um documento de identidade.

Identidade falsa do juiz que se passava por lorde inglês foi descoberta ao tirar segunda via de documento – Foto: Arquivo/Mauricio Vieira/SECOM-SC/ND

A Delegacia de Combate a Crimes de Fraude Documental e Biometria instaurou uma investigação preliminar, que constatou a dupla identidade e criação de uma pessoa fictícia.

Os policiais confirmaram que o suspeito se chama José Eduardo Franco dos Reis e havia tirado seu primeiro RG em Águas da Prata, no interior paulista, em 1973. Ele nasceu em 17 de março de 1958.

José Eduardo entrou na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), em 1988. Em 1996, Edward Wickfield foi aprovado no concurso para a magistratura paulista e se aposentou como titular da 35.ª Vara Cível de São Paulo, no Fórum João Mendes, em 2018.

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