
Um fungo que se adapta ao calor pode colocar milhões de vidas em risco nas próximas décadas, alertam pesquisadores. O Aspergillus fumigatus, comum em ambientes quentes e úmidos, pode se espalhar por regiões da Europa, Ásia e Américas devido ao aumento global das temperaturas, segundo estudo publicado por cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
Os autores da pesquisa chamam atenção para o impacto potencial da expansão do fungo, que pode causar graves infecções respiratórias, especialmente em pessoas com doenças como asma, fibrose cística ou com o sistema imunológico enfraquecido.
“Estamos nos aproximando de um ponto de virada. Em 50 anos, o que cresce e o que pode infectar as pessoas será completamente diferente”, afirmou Norman van Rhijn, um dos autores do estudo, ao jornal ‘Financial Times’.
Os cientistas explicam que o fungo, que já vive em locais como pilhas de compostagem, sobrevive facilmente a temperaturas de até 37°C (a mesma do corpo humano) e por isso consegue colonizar os pulmões. O fungo ainda pode resistir em ambientes extremos, como o interior dos reatores nucleares de Chernobyl, demonstrando o que os cientistas chamam de ‘resiliência incomum’.
De acordo com o estudo, até o fim do século, o Aspergillus fumigatus poderá ocupar 77% mais território do que atualmente. Isso significaria, por exemplo, que até nove milhões de pessoas na Europa estariam expostas ao risco de infecção.
Apesar da ameaça, os especialistas alertam para a falta de investimentos no desenvolvimento de medicamentos antifúngicos, já que os altos custos e o retorno financeiro incerto afastam empresas do setor.
A professora Elaine Bignell, codiretora do Centro de Micologia Médica da Universidade de Exeter, também envolvida na pesquisa, disse que o modo de vida do fungo no ambiente natural pode ter lhe dado a vantagem biológica necessária para infectar humanos.
Ainda segundo os cientistas, menos de 10% das espécies de fungos conhecidas foram descritas pela ciência, e apenas uma pequena parte delas teve seu material genético sequenciado, o que dificulta o avanço de estudos e tratamentos.