Pai denuncia negligência em UPA de Piracicaba e demora para diagnóstico: “medo era perder minha filha”


Menina de 5 anos foi atendida na UPA Vila Cristina duas vezes antes de família buscar outra unidade e exames identificarem apendicite. Reclamações dos atendimentos subiram 13,69% nas UPAs do município. Número de reclamações de atendimentos em UPAs cresceu 13,69%, em Piracicaba
José Ildo Teixeira da Silva denuncia negligência no atendimento da filha Maria Eduarda, de cinco anos, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Cristina, em Piracicaba (SP). Ele relata que a menina foi atendida duas vezes antes de buscarem outra unidade e os exames identificarem apendicite. O pai registrou Boletim de Ocorrência e desabafa: “o medo era perder minha filha”.
Este não é um caso isolado. O número de reclamações em relação aos atendimentos nas UPAs da cidade subiu 13,69%. Os registros aumentaram de 146, em 2023, para 166, em 2024.
📲 Receba no WhatsApp notícias da região de Piracicaba
Os dados foram obtidos pela EPTV, afiliada TV Globo, via Lei de Acesso à Informação. As principais queixas envolvem falta de médicos, demora nos atendimentos e falta de medicamentos. A prefeitura informou que trabalha “para que essas falhas não ocorram mais”.
Pacientes reclamam
Maria Eduarda, de cinco anos, se recupera da cirurgia do apêndice. Ela passou oito dias na UTI. Em entrevista à EPTV, o pai José Ildo Teixeira da Silva reclama do atendimento realizado inicialmente na UPA da Vila Cristina, no dia 12 de março.
“Chegando lá eu expliquei pro doutor, né, que ela ‘tava’ com febre, né, e vomitando, e com muita dor abdominal. Ele falou assim, ‘não, tudo bem’. Ele falou assim pra mim, pôs a mão nela, não fez exame nenhum, não pediu nenhum exame de sangue, de nada, apertou a barriga e falou que era infecção intestinal, ‘foi infecção intestinal’, deu uma dose e o remédio na veia”, relata José.
A menina continuou passando mal, e o pai a levou à UPA novamente. “No dia 15 de março, eu retornei ‘pro’ hospital, com o mesmo médico, só pediu um Raio-X. Nesse Raio-X apareciam umas manchas pretas. Essa mancha preta ele falou que era gás, ‘pra’ eu fazer massagem em casa na minha filha”, conta o pai.
Como Maria Eduarda não melhorava, no dia 17 de março a família procurou atendimento na UPA Piracicamirim. Só então chegaram ao diagnóstico de apendicite. Depois disso, José registrou Boletim de Ocorrência do caso.
“Pediram exame de sangue, né, de urina, e outra ação, e o Raio-X. Aí descobriram que esse remédio ajudou a romper, na verdade, né, o apendicite que ela ‘tava’. Ela ficou seis dias com dor”, narra José. “O medo era perder minha filha. A negligência tá bem estampada, né?”.
Pacientes também relatam demora para serem atendidos e para marcarem consultas. É o caso de Benedito Voltani, que tem diabetes, e já ficou quatro horas aguardando na UPA Vila Cristina.
“Quando ‘tá cheio de gente aí, aí a coisa pega”, diz Benedito.
Thaís Pereira dos Santos também levou o filho, com suspeita de dengue, à mesma UPA. “O ruim é a demora para atender. Se tivesse mais médicos seria bem melhor, bem melhor a situação”, afirma.
O que diz a prefeitura?
Em nota, a Secretaria de Saúde de Piracicaba disse que assumiu o governo este ano e que encontrou “uma desordem muito grande nos atendimentos e abastecimentos de medicamentos e insumos”. Informou também que trabalha “para que essas falhas não ocorram mais, nem de maneira pontual”.
“Em relação ao atendimento em questão, da pequena Maria Eduarda, primeiramente lamentamos o ocorrido e informamos que a gestão da UPA Vila Cristina é terceirizada, estando a cargo da OSS Mahatma Ghandi há quase 2 anos, ou seja, foi uma opção do governo anterior que contratou o sistema de gestão plena por 5 anos. Há fiscalização contínua sobre o cumprimento estrito do contrato e todas as eventuais irregularidades que ficamos sabendo, são notificadas por nós e cobradas respostas e melhorias”, diz a nota.
A OSS Mahatma Gandhi, responsável pela gestão da UPA Vila Cristina, disse que o caso está sendo apurado e que o médico foi afastado de suas atividades.
Já sobre a reclamação de falta de médicos, a Secretaria de Saúde afirma que aumentou o número de médicos trabalhando nas UPAs e que monitora os números de atendimento e tempo de espera. Hoje a média de espera está em 38 minutos.
Menina de 5 anos foi atendida na UPA Vila Cristina duas vezes antes de família buscar outra unidade e exames identificaram apendicite. “Medo era perder minha filha”, diz o pai.
Reprodução EPTV
VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e região
Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba
Adicionar aos favoritos o Link permanente.