
O governo dos Estados Unidos suspendeu, nesta terça-feira (27), a marcação de entrevistas para concessão de vistos a estudantes estrangeiros. A decisão foi divulgada pelo site internacional Politico, que teve acesso a um telegrama assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio.
A medida vale para todos os consulados e embaixadas dos EUA e não há previsão de retomada. A suspensão atinge os vistos usados por estrangeiros que pretendem estudar nos Estados Unidos em universidades, cursos técnicos ou programas de intercâmbio.
Harvard e Yale informaram que interromperam as entrevistas com candidatos de fora do país, o que impacta diretamente as matrículas previstas para o segundo semestre.
De acordo com dados da própria universidade, cerca de 27% dos alunos de Harvard são estrangeiros. A impossibilidade de emissão de vistos afeta estudantes já aprovados que ainda não conseguiram autorização para entrar nos EUA.
As universidades também são financeiramente afetadas, já que parte significativa de suas receitas vem de mensalidades pagas por estrangeiros.
O site Politico também informou que o governo Trump estuda tornar obrigatória a análise do histórico de redes sociais de todos que solicitarem esse tipo de visto.
A medida seria uma ampliação da Ordem Executiva 14161, assinada no início do segundo mandato, que já autoriza o uso de redes sociais para avaliar pedidos de residência, cidadania e asilo.
O plano em discussão prevê que o candidato entregue os dados de uso das redes sociais nos últimos cinco anos. Segundo o governo, o objetivo é impedir a entrada de pessoas que apoiem grupos extremistas ou causem riscos à segurança nacional.
Sistema Catch and Revoke
Desde março, o Departamento de Estado já aplica um sistema chamado “Catch and Revoke”, que usa inteligência artificial para analisar publicações na internet.
Em três semanas, mais de 300 vistos de estudantes foram cancelados com base nessas verificações. Inicialmente, o foco eram estudantes que participaram de manifestações contra a atuação de Israel em Gaza. A proposta agora é ampliar o controle para todos os solicitantes.
Na quinta (22), dias antes da suspensão geral, o governo retirou a autorização da Universidade Harvard para matricular novos alunos estrangeiros.
A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, justificou a medida dizendo que a instituição não estaria cumprindo as leis do país e estaria incentivando o antissemitismo.
Posição de Harvard

A universidade considerou a medida ilegal e entrou com uma ação na Justiça.
Na sexta (23), a juíza federal Allison Burroughs suspendeu temporariamente a decisão, permitindo a permanência dos estudantes até uma nova audiência, marcada para a próxima quinta (29).
Segundo Harvard, a decisão viola a Primeira Emenda da Constituição dos EUA e representa risco direto à continuidade de suas atividades acadêmicas.
A instituição reúne estudantes de mais de 140 países. Um dos casos afetados é o da princesa Elisabeth da Bélgica, que cursa mestrado na universidade.
Em abril, o governo já havia cancelado 1.556 vistos de estudantes estrangeiros. Parte dessas decisões foi associada à participação dos alunos em protestos ou a infrações como multas de trânsito.
Após ações judiciais, o governo anunciou uma revisão do sistema, mas não apresentou regras novas até o momento.
Até o momento, a Casa Branca não se pronunciou oficialmente sobre a suspensão de entrevistas nem sobre a nova proposta de monitoramento.