Casas de repouso em Contagem são investigadas por mortes e maus-tratos a idosos


Duas instituições de longa permanência da Grande BH, alvos de denúncias de negligência, funcionam mesmo após pedidos de interdição por parte da Vigilância Sanitária. Casos envolvem mortes e más condições de higiene. Duas instituições de longa permanência para idosos (ILPI) de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão sendo investigadas pela morte de idosos sob suspeita de maus tratos e abandono.
Os óbitos aconteceram em junho de 2024, na Casa Lar Amor e Vida, localizada no Riacho, e em maio de 2025, no Lar Vovó Maris, no bairro Eldorado.
O g1 e a TV Globo tiveram acesso aos laudos das vistorias da Vigilância Sanitária do município, realizadas em julho de 2024 na Casa Lar Amor e Vida, e em março de 2025, no Lar Vovó Maris, que apontaram diversas irregularidades e pediram a interdição das duas casas (saiba mais abaixo). Apesar disso, de acordo com moradores e familiares, as duas casas continuaram funcionando.
Procurada, a Prefeitura de Contagem informou que “por questões judiciais e de sigilo, segue impossibilitada de passar informações sobre os lares”.
Lar Vovó Maris
Relatórios fotográficos da Vigilância Sanitária de Contagem evidenciaram irregularidades na ILPI Vovó Maris, onde uma idosa de 61 anos, identificada como Maria Claret de Jesus, morreu no início deste mês. A visita do órgão aconteceu antes do falecimento da mulher.
Entre os problemas identificados, estavam armazenamento inadequado de roupas e alimentos no mesmo ambiente, medicamentos sem prescrição misturados a materiais contaminados e carnes sem identificação de validade.
A infraestrutura apresentava pisos danificados, infiltrações, fiação exposta e banheiros em condições precárias, com barras de apoio soltas.
Além disso, foram registrados insetos, cupins em móveis, geladeiras sujas e medicamentos armazenados sem controle de temperatura, colocando em risco a saúde dos idosos.
Meses depois, quando a idosa morreu, a médica do Samu que fez o atendimento se recusou a fornecer o atestado de óbito, alegando suspeita de omissão de socorro e contradição nos relatos dos funcionários.
Já haviam outros sete registros policiais por denúncias de irregularidades na casa entre 2018 e 2025.
O responsável legal, Daniel Júlio Gomes, foi notificado, mas o g1 não conseguiu contato com a defesa dele.
Irregularidades constatadas pela Vigilância Sanitária na casa Vovó Maris.
Reprodução
Irregularidades apontadas pela Vigilância Sanitária na Casa Vovó Maris.
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Casa Lar Amor e Vida
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) moveu uma Ação Civil Pública e apresentou uma denúncia contra a responsável pelo estabelecimento, solicitando a interdição imediata da Casa Lar Amor e Vida.
A medida foi tomada após denúncias anônimas relatarem maus-tratos e negligência, incluindo o falecimento de um idoso de 69 anos, Geraldo Delfino Valadão. Na certidão de óbito dele, consta “causa natural desconhecida”.
Relatórios da Vigilância Sanitária e do Conselho Municipal da Pessoa Idosa revelaram condições extremamente precárias na ILPI. Entre as irregularidades estão a falta de alvará sanitário e de funcionamento, ausência de equipe técnica mínima, uso de medicamentos vencidos (incluindo insulina), instalações elétricas irregulares e falta de acessibilidade.
Inicialmente, a Justiça determinou que os idosos fossem entregues aos familiares em cinco dias, mas a ILPI não cumpriu a medida.
Os idosos eram acomodados em colchões sobre paletes de madeira, e familiares teriam sido proibidos de visitá-los.
O MPMG incluiu o município no processo para garantir a responsabilização solidária e a remoção dos idosos para a rede pública. Além disso, a administradora da ILPI, Andreia Cristiane Gomes Freitas Muniz, já envolvida em caso similar em 2020.
O g1 tenta contato com a defesa de Andreia.
Irregularidades constatadas na instituição Lar Casa Amor e Vida na visita da vigilância sanitária, em julho do ano passado.
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