

Em propriedades que combinam produção orgânica, história e acolhimento, o turismo rural se consolida como alternativa de renda e ferramenta de valorização da cultura local – Foto: Divulgação
Fora das rotas tradicionais do turismo catarinense, longe das praias e do barulho das cidades, um outro tipo de viagem cresce em força e significado. Em diferentes regiões do estado, famílias que vivem da terra têm apostado no agroturismo como fonte de renda, permanência no campo e valorização cultural.
Mais do que um novo modelo econômico, o turismo rural tem promovido transformações profundas: resgata histórias, fortalece vínculos com o território e amplia as perspectivas de quem vive e trabalha no meio rural.
Do campo à memória: quando a hospedagem preserva raízes
Na região da Coxilha Rica, a cerca de 60 quilômetros de Lages, a Fazenda Lua Cheia ocupa uma paisagem típica do planalto catarinense. A mais de mil metros de altitude, entre campos e araucárias, a propriedade abriga animais, trilhas e histórias de família.
Aldo Martins Neto, herdeiro da terceira geração de criadores de ovelhas, trocou a rotina de farmacêutico pela lida com o campo. Em 2018, após a morte do pai, ele e a irmã decidiram abrir as porteiras ao turismo, oferecendo hospedagem e cavalgadas de contemplação.
A iniciativa deu origem também ao primeiro museu da Coxilha Rica e de Capão Alto. O acervo reúne utensílios antigos, fotos e peças do século XIX, como um banco de madeira de 1843, herdado da tataravó. Para Aldo, o turismo foi uma forma de honrar o passado e partilhar o presente com os visitantes. “Estar no campo é se permitir ser um pouco mais criança, mais raiz, é voltar às origens”, afirma.
As cavalgadas percorrem antigos caminhos dos tropeiros que conduziam o gado do Sul até São Paulo. Hoje, esse percurso é feito a passo lento, com tempo para contemplar o silêncio e as paisagens da região.
Onde o que se planta também é o que se serve
No Sul do estado, o município de Santa Rosa de Lima tornou-se referência nacional em agroecologia e agroturismo. A consolidação desse modelo está ligada à atuação da Acolhida na Colônia, associação formada em 1999 para incentivar a permanência das famílias no campo por meio da hospitalidade e da agricultura orgânica.
Entre os exemplos locais está a pousada de Leonilda Balman, mais conhecida como Dida – uma das fundadoras da associação. A propriedade de seis hectares combina produção agroecológica, trilhas e hospedagem. Toda a comida servida aos visitantes vem da própria terra: arroz, feijão, mandioca, hortaliças, frutas, ovos, mel, fubá e temperos.
Dida conta que, no início, a proposta parecia inusitada. Mas com o tempo, percebeu que o que oferecia – simplicidade e verdade – era exatamente o que atraía as pessoas. “Vender a comida que você produz, na mesa pronta… foi um casamento perfeito”, resume.
Além das refeições preparadas com ingredientes frescos, a propriedade oferece trilha até cachoeiras, banhos de ervas e flores e visita ao meliponário, onde o filho Jackson cria abelhas nativas e produz mel e extrato de própolis. A diversificação garante renda para a família e experiências únicas para os visitantes.
Dida se diverte ao lembrar do impacto que a rotina rural tem em quem chega da cidade. “Às vezes eu tô cozinhando para um monte de gente aqui, daí falta alguma coisa. Eu falo: ‘Dá licença que eu vou ali no mercado pegar’. Aí eu corro lá para a horta e venho com um monte de coisa”, conta.
Redescobrindo o valor da própria terra

No Sul de Santa Catarina, o município de Santa Rosa de Lima tornou-se referência nacional em agroecologia e agroturismo – Foto: Divulgação
Também em Santa Rosa de Lima, a família Assing transformou sua relação com o campo ao abrir as portas da propriedade para o agroturismo. Os irmãos Leandro e Leonise herdaram a terra dos pais e, com o tempo, perceberam que o que para eles era rotina, para os visitantes era beleza.
O terreno abriga atividades simples, mas marcantes: passeio de trator, balanço com vista para as colinas, caminhada no canavial com degustação da cana e pescaria de tilápias. A propriedade também produz melado, açúcar mascavo, demerara e cachaça.
Na cozinha, os sabores seguem as raízes da imigração alemã. Um dos pratos mais tradicionais é o guimis, feito com batata inglesa e couve, servido como purê. A refeição é completada com peixe frito, frango caipira, massas caseiras e salada da horta.
Com o envolvimento da nova geração, surgiram ideias como o cinema rural, construído com criatividade e baixo investimento. Para Leandro, as trocas com os visitantes têm valor que vai além do econômico. “A gente viaja sem sair da propriedade, porque conhece culturas novas, costumes novos… e é compensado financeiramente por essa vivência”, afirma.
Turismo que alimenta o futuro
Em diferentes regiões de Santa Catarina, o turismo rural tem transformado histórias familiares e paisagens culturais. Entre trilhas, receitas antigas e bancos de madeira herdados de bisavós, o campo se revela um espaço de memória, de trabalho e de esperança.
Mais do que um destino, o agroturismo catarinense é também um movimento: feito de afeto, de terra, de acolhimento – e de futuro. Quer saber mais sobre todas essas histórias e, quem sabe, planejar a próxima viagem pelo estado?
Aproveite e assista na íntegra ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina, Sicoob e ADS Drones.