Visão divina fez Papa Francisco desistir de casar com uma mulher

Papa Francisco quase se casou antes de se tornar líder religiosoReprodução

Muito antes de se tornar líder da Igreja Católica, o Papa Francisco chegou a pensar em se casar. Foi aos 17 anos, quando se preparava para celebrar o ‘Dia da Primavera’ com amigos no bairro de Flores, em Buenos Aires, que sua trajetória tomou um rumo inesperado. O pontífice argentino morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos.

Ao passar pela igreja de San José de Flores, ele notou uma luz acesa no confessionário e decidiu entrar. A experiência naquele dia, guardada em silêncio por um ano, marcou o início de sua vocação religiosa e, como ele próprio lembraria mais tarde, foi o que o impediu de seguir com o namoro que, segundo o jornal argentino ‘La Nación’, caminhava para o casamento.

Identificada pela imprensa argentina como Amalia, a mulher foi namorada de infância do papa Francisco. Em 2013, ela contou à imprensa do país uma frase marcante dita por Jorge Mario Bergoglio quando ambos tinham apenas 12 anos: “Se eu não me casar com você, vou virar padre.” Segundo Amalia, além da vocação religiosa, o romance não foi adiante porque seus pais eram contra o relacionamento.

Francisco só contou sobre sua decisão tempos depois, durante um baile em uma velha casa do bairro onde reuniu os amigos e revelou sua escolha pelo sacerdócio. O anúncio causou surpresa – especialmente entre as mulheres presentes, segundo relatos de quem presenciou a cena. A partir dali, o jovem argentino foi deixando de frequentar festas e encontros sociais, mergulhando cada vez mais em sua jornada espiritual.

Apesar da mudança de planos, a ligação com Buenos Aires nunca se rompeu. Durante toda a vida, o Papa demonstrou forte apego à cidade onde cresceu. Filho do bairro de Flores, aprendeu a amar o futebol numa pequena praça de terra batida, onde jogava bola após a escola. A casa da infância ficava na rua Membrillar 531, onde viveu com os quatro irmãos. Já adulto, mesmo como arcebispo, era comum vê-lo usando metrô e ônibus, circulando sozinho, sem segurança.

“Gosto de estar entre as pessoas, sentir o calor humano e as preocupações delas”, contou anos depois, ao explicar por que sempre preferiu o transporte público. Morando no Centro da cidade, usava os coletivos para visitar comunidades carentes, como as vilas de Barracas, Lugano e Flores.

Nessas visitas, caminhava por vielas estreitas, conversava com moradores e até almoçava com famílias humildes. “Me sinto bem quando sento à mesa dos pobres. Eles dividem a comida e também o coração”, disse uma vez a Darío Giménez, morador da vila 21-24.

O compromisso com os mais vulneráveis o levou a denunciar, ainda como arcebispo, a atuação de oficinas clandestinas em Buenos Aires, onde incêndios já haviam causado mortes. Sindicalistas chegaram a pedir que ele evitasse andar sozinho pelas ruas, temendo por sua segurança. A resposta foi direta: “A rua, eu não deixo. Preciso estar com o povo. Senão, viro uma rata de sacristia”.

Para os moradores de bairros populares, ele era “o padre Jorge”, presença constante em momentos importantes. Chovia forte no dia das festas patronais em Mataderos, mas ele apareceu de galochas, após pegar metrô e ônibus, para cumprir o que havia prometido: estar com os fiéis. 

A atuação no Vaticano começou a ganhar forma em 2001, após os atentados de 11 de setembro. No mesmo dia, participou de uma oração inter-religiosa no Obelisco de Buenos Aires. Pouco depois, viajou a Roma para o Sínodo dos Bispos. Com a ausência do cardeal de Nova York, coube a Bergoglio assumir o papel de relator principal. Foi ali que muitos o viram, pela primeira vez, como um líder em potencial dentro da Igreja.

Mesmo após ser eleito Papa, em 2013, Francisco nunca escondeu a saudade da cidade natal. “Fora de Buenos Aires, não sirvo para nada”, disse o pontífice em tom de emoção.

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