
Uma obra de arte encontrada no Azerbaijão, considerada a mais antiga do mundo, pode oferecer novas pistas sobre a transição cultural entre o Mesolítico e o Neolítico no Cáucaso do Sul.
Com 8 mil anos, trata-se de uma estatueta de um corpo sem rosto, feita de arenito. Encontrada na Caverna Damjili, ela carrega traços esculpidos com uma precisão que impressionou os arqueólogos.
O estudo publicado na Archaeological Research in Asia resulta de uma colaboração entre pesquisadores do Japão e do Azerbaijão. De acordo com os autores, a estatueta foi esculpida entre 6400 e 6100 a.C., em meio ao processo de mudanças sociais e culturais que ocorreram em meio à introdução da agricultura e do pastoreio na região.
Detalhes revelados pela tecnologia
A escultura tem cerca de cinco centímetros de altura e 1,5 cm de largura. De início, ela quase passou despercebida pelos pesquisadores. Só após análises microscópicas, tomografia computadorizada e exames de raios-x, foi possível identificar o valor simbólico da descoberta.
Segundo os pesquisadores, um lado da estatueta tem entalhes mais complexos, e por isso acreditam que se trata da sua parte frontal. Linhas verticais no topo representam o que pode ser cabelo, cruzado por uma linha horizontal que sugere uma faixa ou gorro. A ausência de rosto é um dos aspectos que mais chama atenção da obra.
Na parte inferior, há três linhas horizontais que parecem um cinto e linhas verticais que poderiam representar um avental. Traços avermelhados com alto teor de ferro sugerem o uso de pigmentos que se deterioraram com o tempo.
Achado raro
Os pesquisadores encontraram a estátua em meio a vestígios de fogueiras, ossos e pedras lascadas. No entanto, objetos de arte em pedra são raríssimos na região, “um achado bastante excepcional”, escreveram os autores.
A peça aponta para uma tradição artística local, embora com possíveis influências do Sudoeste Asiático. “Esta peça é único na pré-história do Cáucaso Meridional”, concluíram os pesquisadores.
A peça tem características muito diferentes das estatuetas neolíticas da região, o que a torna uma referência valiosa para compreender os processos que marcaram a transição entre os dois períodos pré-históricos.
Na visão dos pesquisadores, a obra pode ajudar a entender como surgiram as estruturas sociais mais complexas durante a revolução agropastoril na região.