Estudantes do sexto ao oitavo ano de unidade da rede municipal relatam que ocupam tempo com atividades aleatórias na sala e no pátio. Famílias temem prejuízo pedagógico. Alunos dizem que falta professor de matemática há três meses em escola de Ribeirão Preto, SP
Cauã Lima está no oitavo ano do ensino fundamental e, desde março, não sabe o que é ter um professor de matemática titular em sua sala em Ribeirão Preto (SP). No horário em que deveria aprender uma das matérias mais importantes do currículo básico, as aulas são substituídas por atividades de lazer, segundo ele.
“É um ano fundamental pra matemática, porque a gente vai aprendendo para os próximos anos que a gente não está aprendendo agora. Muitos alunos têm muita dificuldade, muitos pais não podem ensinar nem pagar um curso para eles aprenderem”, lamenta.
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O problema é alvo de queixas na Escola Municipal Dom Luis do Amaral Mousinho, nos Campos Elíseos, onde, segundo de pais e estudantes do sexto ao oitavo ano do fundamental, nenhum docente foi contratado para substituir a professora de matemática que saiu de licença-maternidade há mais de dois meses.
“É um completo abandono com a escola e com as crianças aqui do Mousinho. Não só a sala do meu filho, mas sei que outras salas também, outros anos diferentes estão sem o professor de matemática”, reclama o assistente administrativo Lucas Mateus Bianchi Ribeiro, pai de um aluno matriculado na escola.
A Secretaria Municipal de Educação informou que está finalizando a contratação de um professor de matemática para a escola, mas não explicou o motivo da demora para isso.
Estudante do oitavo ano de escola municipal de Ribeirão Preto estuda matemática somente em casa por falta de professor
Reprodução/EPTV
Professora era de inglês e passou filme, diz aluno
Um dos alunos do oitavo ano, Luís Felipe Ribeiro conta que, em uma das poucas vezes que a escola tentou compensar a ausência da professora de matemática, colocou uma professora de inglês no lugar, mas que não lecionou nem uma nem outra disciplina.
“Ela só falou que era professora de inglês e ia ficar cuidando de nos ate acabar o horário da aula e que era pra ficar todo mundo sentado no lugar enquanto ela passava filme. (…) Fez exatamente nada”, reclama.
Em outras vezes, o passatempo era descer para o pátio para jogar pingue-pongue. “Ou ficamos na sala esperando acabar o horário da aula, recreio, ou pra ir embora mesmo.”
Escola Municipal Dom Luis do Amaral Mousinho, em Ribeirão Preto (SP).
Reprodução/EPTV
Prejuízo no aprendizado
Diante da falta de aulas, alguns pais tentam compensar o tempo perdido ajudando os filhos a estudar em casa. A dona de casa Luma Francine Rosa diz que tenta fazer o papel de professor para ajudar a filha, mas que esbarra na falta de conhecimento.
“Porque é completamente diferente, eu aprendi de uma forma, minha filha me mostra de outra, então o que faço, eu pego livros, eu penso o que será que está aprendendo, eu pesquiso no google, no Youtube, porque não é tudo que eu lembro e é isso que estou fazendo, eu tiro uma hora, uma hora e meia para fazer todos os dias isso, de matemática, fora as tarefas e trabalhos que ela têm que fazer”, diz.
Segundo ela, muitas das questões abordadas ela não se lembra e nem sempre o resultado da abordagem é o esperado. Mesmo com o esforço, ela teme que a filha tenha uma defasagem no aprendizado da disciplina. “Às vezes eu mais confundo ela do que explico, mas é onde eu acho a saída.”
O assistente administrativo Lucas Mateus Bianchi Ribeiro acredita que essa falta de aula deve repercutir negativamente no futuro do filho.
“É uma das disciplinas mais difíceis que a gente tem é a matemática, meu filho por exemplo está no oitavo. Ano que vem vai pro nono ano. Pré-vestibular pra buscar vaga em uma escola melhor no ensino médio, que chance que ele tem? Não tem nenhuma chance.”
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