
As ruas que há mais de 30 anos concentravam milhares de dependentes químicos no Centro de São Paulo estão quase desertas. Região da cracolândia, no centro de São Paulo, está vazia
Há quase uma semana, a região apelidada de Cracolândia, no Centro de São Paulo, está vazia.
As ruas que há mais de 30 anos concentravam milhares de dependentes químicos no Centro de São Paulo estão quase desertas. As imagens dos últimos dias contrastam com as feitas pelo Ministério Público Estadual, em agosto de 2024.
A Operação Saúde e Dignidade organizada pelo Ministério Público, pela prefeitura e pelo governo do estado fechou ferros-velhos ilegais, interditou lojas que vendiam celulares roubados e estacionamentos que serviam como depósito de armas. Prendeu traficantes de drogas e guardas civis metropolitanos, acusados de extorquir dinheiro de comerciantes em troca de proteção. Um ecossistema criminoso, que, segundo o promotor de justiça Fabio Bechara, sustentou por décadas a existência da Cracolândia.
“O dependente, para nós, ele sempre foi visto como vítima desse processo. Vítima de mão de obra quase análoga à escravidão, porque ele ou furtava ou ele pegava aquilo que era abandonado nas ruas e levava para os ferros-velhos. Na medida em que a gente consegue identificar dentro dessa cadeia logística quem fazia o quê e olha para os consumidores dessa mão de obra quase análoga à escravidão, e a gente corta esse vínculo, naturalmente você gera um efeito dissuasório em toda a cadeia”, diz promotor de justiça Fabio Bechara.
Nos últimos nove meses, agentes do Ministério Público acompanharam o esvaziamento do chamado fluxo. A redução e até a ausência de dependentes químicos em determinados pontos da região conhecida como Cracolândia não significa o fim do consumo de crack a céu aberto nas ruas de São Paulo. Homens e mulheres que antes viviam lá, agora estão espalhados por outros bairros. Grupos menores surgiram em viadutos e canteiros centrais, mas não tomam conta de espaço público como acontecia na Cracolândia.
Agora, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas estão usando a experiência do Centro de São Paulo, até aqui bem sucedida, para criar uma ferramenta tecnológica capaz de alertar o poder público para o surgimento de novas Cracolândias pelo país.
“O benefício disso para a elaboração de políticas públicas está exatamente em antecipar novas aglomerações desse tipo. Estamos tomando isso como nosso, digamos assim, caso em análise. Mas isso deve ser generalizado para outras situações, não é? Então, o benefício é a antecipação”, afirma João Luiz Becker, coordenador do FGV Analytics.
Entenda o esvaziamento da Cracolândia, em São Paulo
Reprodução/TV Globo
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